quarta-feira, 3 de junho de 2009

Intervenção de Luís Louro em Vila Praia de Âncora

Boa noite a todas e a todos aqui presentes.

Há dez anos nasceu o Bloco de Esquerda e uma ideia simples apareceu nos seus primeiros cartazes: Votar Bloco era um NOVO VOTO
Era efectivamente um voto diferente, um voto num projecto que procurava combater o imobilismo existente à esquerda, que criava a esperança em muitos dos que já estavam desiludidos da política e do carreirismo partidário em que se havia transformado, que voltava a dar ânimo a todos aqueles que achavam que a política não significava necessariamente egoísmos nem satisfazer interesses pessoais mas sim trabalhar para que todos pudessemos ter uma vida melhor.
Fomos crescendo e, dez anos depois, o Bloco é a terceira força política nacional.
Muitas das nossas propostas, que pareciam a alguns demasiado avançadas há dez anos, são hoje pacificamente aceites na sociedade: a descriminalização do consumo de estupefacientes, a descriminalização da interrupção voluntária de gravidez, a salvaguarda dos direitos das uniões de facto mesmo entre casais do mesmo sexo, a lei da paridade.
Ainda há dias entrou em vigor uma lei que nos dá o direito de termos um acompanhante quando somos assistidos no Serviço Nacional de Saúde. É uma lei proposta pelo Bloco de Esquerda, apesar de as televisões se terem esquecido de fazer essa referência.
Ou seja, apesar de não termos sido governo, conseguimos com a coerência e a determinação que é própria das esquerdas, mudar coisas importantes neste país.
Mas queremos mais.
Nos últimos trinta e três anos fomos governados sempre pelos partidos do Bloco Central: o Partido Socialista e o Partido Social Democrata, que foram alternando no poder e alternando-se em usar em proveito próprio esse poder.
Não consigo encontrar diferenças entre eles. São como a coca-cola e a pepsi-cola. O conteúdo é igual, a garrafa é que é diferente.


O resultado é aquele que hoje temos: o maior número de pobres, a maior desigualdade social das últimas décadas, o maior número de desempregados (em Viana do Castelo a taxa de desemprego tem sido aquela que mais tem crescido nos últimos meses, em comparação com o resto do país).

Mas também temos outra vertente da governação destes partidos: o maior número de sem vergonhas, de pessoas cuja única ambição foi encher os seus próprios bolsos nem que para isso tivessem recorrido às fraudes e às negociatas, pessoas essas que, curiosamente, foram proeminentes membros desses governos mas que não tiveram qualquer problema em prejudicar o erário público.
Todos sabemos quem são e todos esperamos que a justiça seja cega e não olhe aos nomes nem aos cargos que ocuparam.

Por isso outra ideia nos assalta, outra ideia que foi também marcante nos primórdios do Bloco de Esquerda: É Tempo de Começar de Novo.
É tempo de acreditar que o tempo destes senhores já passou. É tempo de acreditar que é possível criar as condições para que o governo deste país deixe de ser uma alternância dos partidos do Bloco Central; é tempo de acreditar que é possível a esquerda de verdade ter uma palavra a dizer nos nossos destinos; é tempo de acreditar que a política não pode ser apenas para servir uns poucos mas tem de ser para servir todos os portugueses.
E neste combate, Viana do Castelo pode ser um exemplo para muitos círculos eleitorais.
No distrito, temos assistido à alternância das votações no PS e no PSD. Todos temos consciência que esta alternância se deve à ideia do voto útil, à ideia que votar nos partidos que não elegem deputados é deitar votos fora. Essa é uma ideia que tem de ser abandonada, porque é essa ideia que tem permitido que aqueles partidos nos tenham desgovernado durante todos estes anos.
Por isso, esta candidatura tem a ambição de ser a terceira força política neste distrito, porque temos consciência que a terceira força política pode eleger um deputado. E se assim for estaremos a conquistar um deputado à direita, estaremos a contribuir para o reforço da esquerda no parlamento, dando mais força a este projecto que quer passar a correr por dentro.


É por isso também TEMPO DE SER EXIGENTE.
Tempo de ser exigente para com aqueles que há quatro anos prometeram a este distrito que não haveria portagens nas SCUTS, que Paredes de Coura teria finalmente uma ligação à A3, que a IC1 seria prolongada até Valença, que haveria uma melhoria dos cuidados de saúde primários, que todas as crianças a partir dos três anos de idade teriam direito a frequentar o ensino pré-escolar.
Só que, se bem prometeram, pouco ou nada cumpriram.
Porque o que acabei de ler são alguns dos pontos que constavam do manifesto eleitoral dos candidatos a deputados pelo Partido Socialista neste distrito de Viana do Castelo. Mas também eram do Partido Social Democrata há seis anos. E faziam parte do programa eleitoral de ambos os partidos.
E todos sabemos que nenhum cumpriu.
É, por isso, tempo de ser exigente connosco próprios, tempo de pensarmos se vale a pena continuar a acreditar nestas promessas que ciclicamente nos aparecem, repetidas eleição após eleição, ou se, pelo contrário, é tempo de darmos a estes senhores uma lição, mostrar-lhes que é tempo de deixar de enganar os alto-minhotos.
E depois, amigas e amigos, é também tempo de ser exigente com a cultura e a prática políticas.
Nesta altura em que alguns rebaixaram a actividade política abaixo do grau zero da dignidade, é tempo de ser exigente e marcar a diferença. Vejam-se os exemplos tristes com que temos convivido aqui no Alto Minho em relação ao Partido Socialista.
No referendo de Viana do Castelo, Defensor Moura e a concelhia do Partido Socialista atacaram, de forma violenta, a distrital e os deputados que estavam no Parlamento.
Uma das deputadas chamou salazarento a Defensor Moura e que estava ávido de poder.
Defensor Moura disse que os deputados não representavam o distrito e José Maria Costa disse que precisavam de ser substituidos.
Mas agora, Defensor Moura vai na mesma lista com alguns dos deputados que eram colegas de bancada daquela que disse que ele era parecido com Salazar. E José Maria Costa vai apelar ao voto nos candidatos que disse que precisavam de ser substituidos.
E esses mesmos deputados, agora candidatos, não têm qualquer problema em ir na mesma lista de Defensor Moura porque lhes garante alguns votos em Viana do Castelo.
Mas em relação aos deputados do Partido Socialista há mais. Há quatro anos, quando o governo do Partido Social Democrata quis implementar portagens das Scuts, os representantes distritais do Partido Socialista, incluindo alguns que depois foram e são deputados, estiveram nas marchas e nos movimentos sociais que lutaram contra essa medida.
Depois, vieram as eleições e continuaram a dizer que não haveria portagens nas scuts, que era para conseguir os nossos votos.
Afinal, depois que passaram a ser deputados e que o seu partido passou a ser governo, deram o dito por não dito, esqueceram-se das marchas em que haviam participado, das afirmações que haviam produzido e já não eram contra as portagens, já achavam que sim senhor, que os alto-minhotos deveriam pagar portagens nas scuts.

É, infelizmente, esta a prática e a cultura política dos deputados e dos partidos de governo.
Para eles o poder é o que interessa, nem que para isso não existam princípios nem ética.

Por isso está na hora. Está na hora de juntar as forças. De juntar as forças de todas e de todos que não se revêem nesta política sem principios e sem ética. Esta é a nossa hora. A hora da esquerda de verdade, a hora do Bloco de Esquerda.

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